O agronegócio brasileiro apresenta um ecossistema complexo e dinâmico, com oportunidades únicas para investidores. Nesse cenário, o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Agroindustriais) emergiu como um veículo eficiente para canalizar recursos do mercado de capitais para o setor. A mais recente evolução desse instrumento foi a regulamentação pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) do Fiagro Multimercado, que eleva a um novo patamar as possibilidades de alocação e gestão de portfólio.
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O que define o Fiagro Multimercado?
O Fiagro surgiu como resposta à necessidade de um instrumento mais adequado às particularidades do agro, em comparação com adaptações de modelos do mercado imobiliário, como o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), derivado do CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários). A dinâmica de ciclos produtivos e de pagamentos no agro exigiu uma estrutura mais aderente à sua natureza, resultando na criação do Fiagro.
O Fiagro Multimercado representa um avanço significativo, diferenciando-se dos Fiagros tradicionais (como o FIAGRO-IR, com foco em ativos imobiliários rurais) pela sua capacidade de investir em um leque diversificado de ativos, dentro de um único fundo. Essa arquitetura permite alocar capital simultaneamente em:
- Crédito privado agro: financiamento estruturado para produtores, cooperativas, agroindústrias e outros players da cadeia.
- Ativos imobiliários rurais: aquisição de terras, propriedades rurais, armazéns e infraestrutura logística.
- Participações societárias (Equity): Investimentos em empresas com atuação direta ou indireta no agronegócio, buscando valorização a longo prazo.
Essa versatilidade estratégica confere ao Fiagro Multimercado um diferencial competitivo, proporcionando aos gestores a capacidade de otimizar a alocação de recursos em diferentes classes de ativos, ajustando a exposição ao risco e buscando retornos superiores.
Arquitetura operacional do Fiagro Multimercado
A estruturação de um Fiagro Multimercado envolve a interação de diversos participantes:
- Gestores de recursos: profissionais especializados na seleção, gestão e monitoramento dos ativos que compõem o portfólio do fundo.
- Investidores qualificados: pessoas físicas e jurídicas com expertise e capacidade financeira para realizar investimentos no mercado de capitais.
- Securitizadoras: instituições financeiras que podem atuar na estruturação de operações de crédito, transformando recebíveis em títulos negociáveis.
Ao contrário do CRA, com prazo de vencimento predeterminado, o Fiagro opera como um fundo de investimento, sem data de encerramento fixa. Essa característica oferece maior flexibilidade na gestão do portfólio e possibilita novas captações de recursos conforme as oportunidades de mercado.
A emissão de Fiagros usualmente direciona-se a produtores e empresas de médio e grande porte, com estruturas de governança robustas e capacidade de absorver volumes significativos de capital, geralmente acima de R$ 20 milhões. O Fiagro configura-se, assim, como um instrumento estratégico de financiamento e crescimento para esses players.
Vantagens estratégicas do Fiagro Multimercado
- Alocação dinâmica e diversificada: a capacidade de investir em múltiplas classes de ativos permite aos gestores ajustar a estratégia de alocação de acordo com o cenário macroeconômico e as oportunidades identificadas no setor agro.
- Estrutura eficiente e flexível: em comparação com o CRA, o Fiagro oferece um processo de estruturação mais ágil e adaptável, embora possa apresentar custos de gestão diferenciados.
- Potencial de valorização e retornos otimizados: a combinação estratégica de diferentes ativos pode gerar retornos mais consistentes e mitigar riscos, buscando maximizar o valor para os investidores.
Desafios e fatores de risco
- Volatilidade macroeconômica e taxas de juros: as flutuações nas taxas de juros (Selic) e a pressão inflacionária exigem uma gestão ativa do risco de mercado e a busca por ativos que ofereçam proteção contra a inflação (IPCA) e retornos alinhados às taxas de referência (DI).
- Complexidade na gestão de portfólio: a gestão de uma carteira diversificada, com diferentes perfis de risco e prazos de vencimento, demanda expertise técnica e acompanhamento constante, impactando as taxas de gestão em função da complexidade.
- Regulação e integridade do mercado de carbono: embora os CBios (Créditos de Descarbonização) representem um ativo promissor, a ausência de um mercado regulado e a ocorrência de fraudes demandam cautela e diligência na avaliação desses investimentos.
- Due diligence e monitoramento contínuo: a complexidade das operações exige rigorosos processos de due diligence, análise de crédito, monitoramento socioambiental e acompanhamento contínuo das carteiras, assegurando a conformidade e a mitigação de riscos.
Oportunidades para o Ecossistema Agro
- Produtores e Empresas Rurais: Acesso a funding estratégico com condições mais flexíveis e menor custo de estruturação em relação a outras modalidades, viabilizando projetos de expansão e modernização.
- Investidores: Exposição diversificada ao agronegócio, com potencial de retornos atrativos e alinhamento com práticas ESG.
- Consultorias e Gestoras: Demanda crescente por serviços especializados em estruturação, gestão de risco, análise de crédito e monitoramento de carteiras, impulsionando o desenvolvimento do mercado.
Soluções especializadas
Em todo o ciclo de gestão da carteira de ativos, da prospecção ao monitoramento, é preciso assegurar conformidade. Isso inclui a transparência na divulgação de informações a investidores e ao mercado, o cumprimento das regras de alocação e monitoramento dos ativos e seus respectivos devedores, além da garantia de que estes e as propriedades rurais envolvidas não incorram em desconformidade nas condicionantes socioambientais.
Contar com ferramentas de avaliação de riscos de crédito e socioambientais é essencial para garantir a transparência e resguardar a reputação de operações financeiras como o Fiagro Multimercado.
Ao utilizar plataformas que combinam inteligência artificial, monitoramento de imagens de satélite e ciência de dados como as da Serasa Experian, os agentes do agronegócio conseguem extrair insights a partir de relatórios e pareceres que permitem ganhar eficiência operacional e agilidade de resposta frente a riscos de inadimplência ou falta de conformidade.
Um exemplo é o Agro Portfolio Scoring, solução para o mercado financeiro, especialmente voltada para a qualificação de carteiras de recebíveis no setor de Agronegócio para aprimorar a gestão dos ativos. Ela inclui visões do Agro Score com análises detalhadas de risco de inadimplência por CPFs e CNPJs, respectivamente.
Além disso, inclui ainda o Score ESG que avalia CPFs e CNPJs com foco em sustentabilidade e responsabilidade social. Com estas informações é possível criar relatórios mensais abrangentes com distribuição de frequência de scores da carteira e estimativas de perdas esperadas e inesperadas, oferecendo maior transparência e embasamento para decisões estratégicas.