Inteligência geográfica ajuda a monitorar o uso de recursos públicos no agronegócio brasileiro
Quem diria que os satélites, além de nos proporcionarem imagens incríveis da Terra, também estão ajudando a fiscalizar o uso de recursos públicos no campo? Um estudo recente desenvolvido pelos especialistas da Serasa Experian revelou dados surpreendentes sobre o cumprimento das regras nos financiamentos para a produção de soja no Brasil.
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Olhos no campo
A tecnologia de monitoramento por satélite está se mostrando cada vez mais eficiente no agronegócio: do acompanhamento da plantação à fiscalização da conformidade socioambiental e o direcionamento do crédito rural. Com o mapeamento das safras de Soja 2022/2023, a Serasa Experian conseguiu acompanhar de perto o uso das áreas financiadas para o cultivo da oleaginosa.
Resultados positivos
A boa notícia é que a grande maioria dos produtores está utilizando os recursos de forma correta, dentro do que foi planejado.
- 76% dos agricultores utilizaram os recursos de forma adequada, conforme o planejado ou estão dentro da margem de erro de até 10% da área de produção, o que pode caracterizar não um desvio, mas uma gleba não tão bem delimitada no projeto submetido para conseguir o crédito.
- Esse número representa uma proporção de 8 a cada 10 produtores.
Isso demonstra um alto nível de comprometimento com as regras e com a boa gestão dos recursos públicos. A amostragem pesquisa foi de 3,9 Milhões de hectares.
Desvios identificados
No entanto, o estudo também identificou possíveis casos de desvio de finalidade, onde os recursos não foram aplicados como previsto. Esse tipo de prática, além de ser uma irregularidade, prejudica a competitividade do setor e pode gerar perdas financeiras significativas.
Considerando o crédito concedido associado à amostra de área analisada e com potencial desvio maior que 10%, o risco financeiro seria:
- Cerca de R$ 3 bilhões, o que equivale a 15,7% de todo o crédito agro contratado para custear o cultivo da soja no período de análise.
- 16% da área total financiada apresenta indícios de desvio de finalidade. Isso significa que quase um sexto das terras que receberam recursos públicos para o cultivo de soja pode estar sendo utilizado para outras culturas ou não estão sendo cultivadas.
- 24% das operações de crédito para soja apresentaram possível desvio em mais de 10% da área financiada.
- Ou seja, um quarto dos produtores de soja que receberam crédito podem não ter utilizado pelo menos 10% da área financiada para o cultivo da oleaginosa.
- 7% das propriedades tiveram desvio de finalidade em quase toda a área. Um número que indica que em algumas propriedades, praticamente toda a área financiada para o cultivo de soja está sendo utilizada para outros fins.
Marcelo Pimenta
Head de Agronegócio da Serasa Experian
O que isso significa?
- Perda de recursos públicos: crédito que poderia ser utilizado para fortalecer a produção de alimentos e gerar renda para os agricultores não está sendo corretamente direcionado.
- Impacto ambiental: O desvio de finalidade pode levar à expansão de culturas em áreas inadequadas, gerando impactos negativos para o meio ambiente
A importância da transparência
A transparência no crédito rural é fundamental para garantir um custeio mais justo e eficiente no agronegócio. O uso de tecnologias como o monitoramento por satélite associada a inteligência artificial e territorial integra dados de diversas fontes e torna possível:
- Mitigar: identificar possíveis casos de desvio de recursos públicos.
- Otimizar recursos: direcionar os investimentos para onde realmente são necessários.
- Promover a sustentabilidade: incentivar práticas agrícolas mais responsáveis.
- Aumentar a produtividade: tomar decisões mais precisas e eficientes.
- Reduzir custos: otimizar o uso de insumos e recursos.
- Melhorar a gestão: ter uma visão mais completa do negócio.
Desvio de finalidade nas operações de custeio:
Ao longo da jornada de crédito, as instituições financeiras contam com soluções para mitigar este risco nas operações:
Antes de conceder o crédito:
Agro Report (Relatório de fiscalização por sensoriamento remoto): avalia detalhadamente a área agrícola, data de plantio, cultura e risco ZARC ao início e ao final da safra. Pode ser solicitado de uma safra anterior para dar suporte às decisões de crédito da safra atual ou após o plantio para avaliar conformidade entre plantio declarado e área cultivada.
Durante a operação de crédito:
Crop Monitor: monitora a operação de crédito para garantir que os recursos financeiros concedidos para prática agrícola estejam realmente sendo utilizados da forma que foi acordado. Desta maneira, a instituição financeira identifica se o plantio teve início dentro da janela do Zarc, qual a cultura que está sendo cultivada na área e identifica desvios que podem acontecer durante a operação de crédito, permitindo a tomada de decisões estratégicas e eficazes para evitar riscos maiores para a instituição.
Fique por dentro: Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. Elaborado a partir de dados de clima, solo e outras informações ele define um calendário específico para cada município, tipo de solo e cultura, ajudando os agricultores a identificar as melhores épocas de plantio.