Você sabia que, segundo dados do último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, "77% dos estabelecimentos agrícolas são classificados como agricultura familiar, abrangendo cerca de 80 milhões de hectares e empregando mais de 10 milhões de pessoas"? Sim!

Esse número corresponde a 67% da força de trabalho no setor agropecuário e demonstra a importância de um tema que tem ganhado visibilidade nos últimos tempos: a sucessão familiar rural, que se refere ao processo de transferência da gestão e propriedade de uma unidade agrícola de uma geração para outra dentro da mesma família.

No entanto, o assunto é peculiar: o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), por exemplo, aponta que apenas 30% das empresas familiares sobrevivem à transição da primeira para a segunda geração, e essa taxa diminui para 15% na passagem para a terceira geração. Ao todo, 72% das empresas familiares no Brasil não têm um plano de continuidade para os cargos-chave voltado aos descendentes.

Então, como ter a segurança de negociar com essa parcela tão significativa do setor? Como oferecer financiamentos com segurança em um contexto incerto, mas necessário? É sobre isso que falaremos hoje. Continue conosco e entenda como superar esse obstáculo sem riscos de crédito no agronegócio!

O que é sucessão familiar rural?

A sucessão familiar rural refere-se ao processo de transferência da gestão e propriedade de uma unidade agrícola de uma geração para outra dentro da mesma família. Esse processo é fundamental para garantir a continuidade das atividades agropecuárias e a preservação do patrimônio familiar no campo.

No entanto, fatores como a alta volatilidade dos mercados de commodities e fenômenos como a elevação do custo do trabalho, a mecanização do campo e a migração para empregos urbanos constituem alguns dos desafios a essa permanência e continuidade.

Quais são os desafios da sucessão familiar rural?

Estudos indicam que 50,83% dos gestores rurais apontam essa instabilidade econômica do negócio como um dos maiores obstáculos para a sucessão. Somado a isso, 34,17% deles destacam a falta de interesse dos filhos na continuidade das atividades rurais. Evidências publicadas pela Associação Brasileira de Custos mostram que:

"ao levar em conta que o patrimônio relacionado ao negócio – terra, lavouras, instalações, máquinas e demais benfeitorias – é parte importante da riqueza do patriarca/proprietário, a condução do negócio pode visar outras prioridades que não a maximização do lucro da atividade, como autonomia, independência financeira, sobrevivência e tranquilidade".

E é esse aglomerado de responsabilidades que, aparentemente, leva ao desinteresse dos sucessores. Mas não paramos por aí. Ter um plano de continuidade para cargos-chave voltado aos descendentes também aparece como um dos fatores que contribuem fortemente para o cenário volátil.

Essa ausência pode acarretar perda de competitividade, além de possíveis conflitos familiares que colocam em risco tanto a estabilidade da organização quanto o futuro das próximas gerações. Em entrevista para o Canal Rural, Jurema Aguiar de Araújo, conselheira de empresas, ressalta que o assunto ainda parece um tabu no Brasil:

“O desconforto ao abordar a finitude da liderança impede, muitas vezes, a preparação adequada dos sucessores, um tremendo risco pois é imprescindível que esse processo, que é de médio a longo prazo, seja feito com a máxima antecedência, enquanto o sucedido estiver em plena atividade e saudável”.

Jurema mostra, ainda, que "75% das empresas familiares fecham após os herdeiros sucessores assumirem o negócio. Isso significa que somente sete em cada 100 empresas brasileiras chegam à terceira geração” e nos leva à conclusão de que a transição de propriedade às gerações seguintes requer sabedoria e intuição para escolher um sucessor moderno que:

  • Contribua para a segurança alimentar;
  • Assegure a preservação do meio ambiente;
  • Gere fonte de energia;
  • Tenha consciência do contexto de mudanças tecnológicas velozes e de impacto imprevisível, inclusive sobre a produção agropecuária (agricultura de precisão, engenharia genética, drones, etc.);
  • Entenda o impacto da necessidade da adequação ao compliance de normas como o EUDR, por exemplo;
  • Saiba conciliar os objetivos estritamente financeiros com outros;
  • Contar com as diversas iniciativas de políticas públicas, em todo o mundo, que têm o intuito de facilitar o processo de sucessão na atividade rural, como os incentivos de natureza fiscal e/ou tributária para a transmissão intrafamiliar, financiamentos disponíveis em condições favoráveis para a nova geração e estabelecimento de programas de educação da família para a sucessão.

Como um plano de sucessão familiar deve ser feito para não existir riscos na concessão de crédito?

A sucessão familiar rural é um processo que exige planejamento estratégico e uma estrutura bem definida para garantir a continuidade da propriedade rural sem comprometer sua sustentabilidade financeira e operacional. Segundo Hofstrand (1998), "a sucessão deve ser conduzida de forma gradual e estruturada, considerando três pilares essenciais: a transferência da gestão, a divisão dos rendimentos e a transferência patrimonial".

No entanto, a falta desse planejamento ainda é um dos principais desafios enfrentados pelas famílias do setor. Como já mencionamos, 72% das empresas familiares no Brasil não possuem um plano formal de sucessão para cargos-chave, o que pode resultar em conflitos internos, perda de competitividade e, principalmente, inadimplência com seus financiadores.

Portanto, seguir um plano estruturado e adotar boas práticas são medidas essenciais para evitar rupturas no negócio. Confira a seguir como uma sucessão familiar rural deve ser feita para garantir menos riscos de crédito em suas relações comerciais!

1. Desenvolver um planejamento estratégico e definir as regras

Ao contrário do que muitos pensam, a sucessão não pode ser um evento repentino, mas sim um processo de médio a longo prazo, onde o sucessor é gradualmente inserido na gestão da propriedade. Então, definir regras claras sobre a transição e os papéis de cada membro da família é fundamental para garantir um processo harmonioso.

O estabelecimento de uma governança familiar pode ser um grande aliado nesse contexto. Um dos principais fatores para uma sucessão bem-sucedida é a criação de um protocolo de família, documento que estabelece as regras para tomada de decisões, participação dos herdeiros na gestão e divisão dos rendimentos do negócio.

Como já demonstramos quando falamos dos desafios desse processo, a falta de preparo dos herdeiros é u

2. Investir na capacitação dos sucessores

m dos principais fatores que levam as empresas familiares ao fracasso após a transição (75% das empresas familiares fecham após os sucessores assumirem a gestão).

Portanto, aqui, os programas de qualificação e profissionalização são essenciais. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), por exemplo, oferece linhas de crédito rural específicas para modernização das propriedades, permitindo que a nova geração tenha acesso a tecnologias e práticas mais eficientes de gestão. Além disso, cursos voltados para administração rural, inovação tecnológica e compliance socioambiental são muito recomendáveis.

3. Comunicar e alinhar as expectativas

Sabia que um dos desafios da sucessão familiar é a resistência dos líderes em abrir mão do comando? Muitas vezes, o medo da perda de status e a insegurança sobre o futuro do negócio fazem com que o processo seja adiado indefinidamente.

E é o simples alinhamento contínuo de expectativas entre os membros da família que garantirá que o sucessor esteja preparado não apenas tecnicamente, mas também emocionalmente, para assumir a gestão.

4. Focar na profissionalização da administração

A profissionalização da gestão da fazenda é um dos fatores-chave para garantir sua perenidade. Empresas familiares que adotam estruturas de governança e processos administrativos bem definidos conseguem aumentar sua taxa de sobrevivência exponencialmente, e isso pode ser feito por meio da contratação de consultores especializados, implementação de ferramentas de gestão e adoção de práticas administrativas mais eficientes.

Um exemplo trazido pela Embrapa e mencionado na Revista Jushomini é a criação de holdings familiares, que têm crescido 35% nos últimos anos no setor rural brasileiro, com o intuito de maior profissionalização e organização patrimonial.

Por fim, a regularização da parte jurídica e tributária da sucessão é essencial para evitar litígios e garantir a segurança financeira da transição. A ausência de um planejamento sucessório formal pode gerar disputas familiares, processos judiciais e até a fragmentação da propriedade, comprometendo sua viabilidade econômica.

É altamente recomendado formalizar testamentos e procurações, elaborar contratos de arrendamento e cessão de direitos, fazer um planejamento tributário para reduzir custos na transferência de bens e construir holdings para otimização fiscal e patrimonial. Então, atente-se quando for negociar e assegure-se de que os envolvidos optaram pela via judicial para fazer a sucessão.

Como conceder crédito para agricultores em processo de sucessão?

Diante do cenário que apresentamos no decorrer desse artigo, fica perceptível que a concessão de crédito rural para propriedades que estão em processo de sucessão familiar representa um certo desafio. Afinal, nesse momento de transição, há um aumento da incerteza sobre a estabilidade da gestão, a viabilidade econômica da propriedade e a capacidade de pagamento dos novos responsáveis.

Apesar disso, a adoção de critérios sólidos de análise e estratégias de mitigação de riscos pode garantir que os recursos concedidos sejam bem aplicados e retornem com segurança. E para isso, algumas boas práticas podem ser implementadas.

A primeira delas é avaliar se a propriedade rural possui um plano de sucessão estruturado e bem definido. Depois, fazer uma análise do histórico de gestão e saúde financeira da propriedade. No momento da sucessão, a chegada de novos gestores pode impactar diretamente o fluxo de caixa, a estrutura de endividamento e a estratégia financeira do empreendimento.

Também é de suma importância adotar estratégias de monitoramento contínuo das propriedades que estão em transição geracional. Existem soluções que envolvem o monitoramento de crédito e análise de risco para acompanhar a evolução da nova gestão e prever possíveis dificuldades financeiras antes que elas resultem em inadimplência, como as oferecidas pela Serasa Experian.

Por fim, outro método complementar é o de solicitar garantias adicionais e diversificar a carteira de crédito, pois essa "carteira hidra" minimiza a exposição ao risco. Algumas opções são:

  • Crédito vinculado a projetos estruturados, como modernização da produção ou adoção de novas tecnologias, garantindo que os recursos sejam bem aplicados;
  • Garantias reais, como a própria terra ou equipamentos da propriedade.

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Com acesso a centenas de fontes de dados, nossa solução cria um perfil detalhado do cliente em foco, comparando-o a milhares de propriedades rurais e identificando perfis de alto risco de inadimplência no setor. Consideramos não apenas o histórico financeiro, mas também sua atuação em mercados de cooperativas de crédito, indústrias agropecuárias, fertilizantes, maquinário agrícola e outros setores do agronegócio.

Com toda essa análise, a ferramenta atribui uma pontuação de 0 a 1.000, sendo que quanto maior a nota, menor o risco de inadimplência. Assim, conseguimos impulsionar em até 46,2% as chances de concessão de crédito para aqueles que possuem pontuação acima de 500 pontos. Confira abaixo um de nossos cases de sucesso:

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    • Monitoramento de Safra, que utiliza imagens de satélite para fiscalizar lavouras desde o plantio até a colheita, proporcionando maior controle sobre operações estruturadas, como barter e financiamentos agrícolas;
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O agronegócio é um setor dinâmico e repleto de oportunidades, e aqueles que investem em inteligência de dados e governança eficiente têm muito a ganhar. Com planejamento, tecnologia e as soluções certas, é possível impulsionar o crescimento sustentável do crédito rural e fortalecer o futuro do agronegócio brasileiro.

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